sábado, 12 de setembro de 2009

Uma zebra repetida duas vezes



Qualquer um que acompanhe o futebol inglês a uns 10 ou 15 anos não consegue entender muito bem como isso aconteceu. Muitos nem conhecem bem o simpático Nottingham Forest conseguiu a façanha de ser bi-campeão da champions league e depois desaparecer. O que aconteceu naquela virada de década de 70 para a de 80 foi sem dúvida uma das maiores zebras do futebol europeu. Este post é uma cordial sugestão de meu ilustre amigo Círio Oliveira.

A final da Champions League de 1979 surpreender o mundo com o duelo entre Nottingham Forest, da Inglaterra, e Malmö, da Suécia; realizado no estádio Olímpico de Munique.
O Nottingham Forest (sediado na famosa floresta de Robin Hood) havia conquistado o seu primeiro e único título inglês no ano anterior, e, assim chegou a sua primeira Champions. Nem por isso era novato, pois já tinha 114 anos naquela temporada, possuindo uma razoável tradição na Inglaterra, mas conquistando apenas alguns títulos de copas e campanhas medianas no campeonato inglês. A mudança na história do clube começou quando o técnico Brian Clough assumiu o time em 1975 e montou um time extremamente competitivo, com marcação forte e determinação para superar suas limitações técnicas. Os destaques eram o goleiro Peter Shilton e o meia Trevor Francis. Essa equipe do Forest ficou 42 jogos invictos no Campeonato Inglês entre 1977 e 78 (recorde só batido pelo Arsenal em 2004) e conquistou um título nacional, que deu direito à disputar a Champions League.
Já o Malmö F.F. era um dos três grandes do futebol sueco, possuindo ante então 12 títulos nacionais, mas sem nenhuma expressão no cenário europeu. Aquela foi sua única decisão a nível europeu até hoje.

De um lado o estreante Forest surpreendeu a Europa com sua ascensão que começou com a eliminação do atual bi-campeão Liverpool (2x0 e 0x0), passando ainda por AEK Atenas da Grécia (2x1 e 5x1), Grasshopper da Suíça (4x1 e 1x1) e Köln da Alemanha Ocidental (3x3 e 1x0). Do outro o Malmö chegou a final eliminando o Monaco da França (0x0 e 1x0), Dínamo de Kiev da URSS (0x0 e 2x0), Wisla Krakówia da Polônia (1x2 e 4x1) e o Áustria Viena (0x0 e 1x0). Dois debutantes numa final. Uma zebra completa e não haveria como ser diferente, pois entre os oito melhores clubes da competição o de maior repercussão internacional era o Glasgow Rangers da Escócia.
Em 30 de maio de 79, no Olímpico de Munique o mundo viu uma zebra anunciada. Dos titulares o único ausente era Archie Gemmill do Forest, lesionado, que foi substituído por Ian Bowyer.
O Forest logo de cara perdeu chances com Frank Clark e Bowyer. Robertson flutuava em campo e por outro lado o zagueiro do Malmö, Anders Ljundberg se destacava. Numa das poucas chances de perigo do Malmö, Olof Kinnvall ficou cara a cara com Peter Shilton que salvou o Forest.

O Forest não apresentou seu melhor futebol, mas fez história, ao se tornar o primeiro clube a conquistar a Champions league em sua primeira tentativa, sendo o terceiro time inglês campeão. O gol foi marcado nos acréscimos do primeiro tempo. Robertson escapou da marcação tripla que vinha sendo feita sobre ele pelo Malmö, chegou a linha de fundo e cruzou para Francis para mergulhar de cabeça e fazer o gol do título.
A maioria da torcida era do Nottinghan e comemoraram com um barulho ensurdecedor. O Forest foi ofensivo o tempo todo e o Malmö ficou na defesa. Mesmo com uma apresentação aquém de suas capacidades o Nottinghan Forest conquistou a Champions com grande festa em Munique, deixando a Europa atônita com a cena surpreendente do capitão McGovern erguendo a taça.

Naquele ano o sucesso do clube só não foi maior porque ele desistiu de enfrentar o Olímpia do Paraguai na final do mundial, sendo substituído pelo Malmö, que foi derrotado.
Como zebra pouca é bobagem e time voltou a ser campeão na temporada seguinte. Isso mesmo. O antes inexpressivo Forest foi bi-campeão da Champions League na temporada 79/80. O título emblemático dos “reds” veio com uma vitória sobre do Hamburgo da Alemanha Ocidental por 1 x 0, em Madri, com o gol de Robertson. A campanha contou com vitórias sobre Östers da Suécia (2x0 e 1x1), Arges Pitesti da Romênia (2x0 e 2x1), Dynamo de Berlim da Alemanha Oriental (0x1 e 3x1) e Ajax da Holanda (2x0 e 0x1).

O técnico inglês Brian Clough, tido como um milagreiro, ficou no clube entre 1975 e 1993, totalizando 907 jogos, sendo demitido após o rebaixamento da equipe na liga inglesa. Após aqueles anos mágicos, o clube voltou ao ostracismo, e hoje se encontra na 2ª divisão inglesa, sendo o único campeão europeu nesta situação atualmente.

Fotos: www.rpvc.com
footballfocus.xsmnet.com
uefa.com

Nottingham Forest (ING) 1 x 0 Malmö (SUE)
Nottingham Forest: Shilton; Anderson, Lloyd, Burns, Clark; Francis, McGovern, Bowyer, Robertson; Woodcock, Birtles. Técnico: Brian Clough.
Malmö: Moller; R.Andersson, Jonsson, M.Andersson, Erlandsson; Tapper (Malmberg), Ljungberg, Prytz, Kinnvall; Hansson (T.Andersson), Cervin. Técnico: Bob Houghton.
Gol: Francis, aos 46 do 1ºtempo.
Estádio: Olímpico, em Munique(RFA).
Data: 30/05/1979.
Árbitro: Erich Linemayr(AUT)
Auxiliares: .
Público: 57.000 pagantes.

Assista abaixo os vídeos das duas decisões:



sexta-feira, 11 de setembro de 2009

2004: O ANO DA ZEBRA NO HORÓSCOPO FUTEBOLÍSTICO - Até que enfim o Azulão.


Uma final atípica, inesperada, e que apontou um campeão inédito. Antes disso é importante lembrar que no ano da zebra não se poderia esperar outra coisa no Paulistão. Talvez um grande sendo goleado por um time do interior na decisão, mas creio que a “final caipira” ficou de bom tamanho. A zebra não se faz apenas pelo título do azulão, mas sim, por uma conjuntura de fatores que veremos a seguir.

Para começo de conversa o Paulistão 2004 começou com uma cara meio torta, com 21 times divididos em 2 grupos, um de 10 e um 11. As equipes se enfrentariam dentro desses grupos em turno único e os quatro melhores de cada iriam a fase seguinte de mata-mata. O pior de cada grupo cairia. A torcida entrou em briga direta com a Federal Paulista por cobrar 20 reais pelos ingressos e por só ter colocado dois clássicos na primeira fase, sendo Santos x Palmeiras e São Paulo x Corinthians. Esse regulamento propiciou algumas aberrações ao fim da primeira fase. A Portuguesa Santista que se classificou em segundo do grupo A com 15 pontos, fez menos pontos que o 6º colocado do grupo B, o Marília, que não se classificou. O União São João de Araras (do fatídico post anterior) somou apenas um ponto em 10 partidas e não caiu. Tudo porque a Federação Paulista tirou 12 dos 10 pontos conquistados pelo Oeste, sob a acusação de utilização de jogador irregular. Isso mesmo, o Oeste foi lanterna do grupo B com -2 pontos. E no outro grupo o lanterna e rebaixado Juventus, somou 6 pontos. Com essa pontuação ele terminaria em 9º no grupo B, longe do rebaixamento. Curiosamente, no grupo A, o Juventus só caiu porque o São Paulo o derrotou por 2x1 de virada na última rodada, sendo que se o Juventus tivesse vencido antes favorito Corinthians teria sido rebaixado em seu lugar. O autor dos dois gols do jogo, Grafiti, até hoje é xingado por alguns torcedores do tricolor por ter salvo o rival.
Mais voltando ao importante, a zebra, chegamos as quartas de final, onde tudo seria resolvido em uma partida. O Santos eliminou o União Barbarense, o Palmeiras passou pela Portuguesa Santista, o Paulista eliminou surpreendentemente a Ponte Preta numa emocionante disputa de pênaltis e o São Caetano venceu o São Paulo, naquela que foi a única derrota do tricolor na competição, mas rendeu-lhe a eliminação precoce.
Na semi-final não foi diferente. O São Caetano empatou com Santos em 3x3 na Vila Belmiro, num jogaço, vencendo depois no Anacleto Campanela por 4x0. Na outra semi-final duas partidas memoráveis entre Palmeiras e Paulista, 1x1 no Parque Antártica e 3x3 em Araras (o jogo não pode ser realizado em Jundiaí). Nas duas partidas o Palmeiras de Vagner Love foi extremamente superior dominando o jogo mas esbarrando nas espetaculares defesas do goleiro Márcio. Na disputa de pênaltis o Paulista conseguiu uma vitória heróica por 4x3, levando a zebra de Jundiaí para a decisão.

O São Caetano treinado pela então revelação Murici Ramalho e o Paulista, do também novato técnico Zetti, chegavam a primeira decisão do Paulistão da história das duas equipes. Numa das aberrações da Federação Paulista, as duas partidas foram marcadas para o Pacaembu, pois os estádios de São Caetano e Jundiaí tinham capacidades inferiores a 30 mil torcedores.
Na primeira partida, com público pífio de pouco mais de 10 mil pagantes, o São Caetano venceu de virada por 3x1, com o mando de campo do Paulista, levando uma enorme vantagem para a segunda partida.

Como ninguém espera o São Caetano na final se esqueceram de que o time disputava a Libertadores e entre as duas partidas da final, o Azulão teve um jogo contra o The Strongest, na Bolívia, ao qual venceu por 2x0. Sem se preocupar em poupar jogadores, o time de Murici chegou para a segunda partida completo e pronto para jogar nos contra-ataques. O Paulista, melhor ataque da competição foi com tudo para cima do São Caetano, levando perigo ao gol de Silvio Luis. Entretanto, o Azulão, bem postado na defesa e melhor organizado em campo abriu o placar com Marcinho, aos 20 do primeiro tempo e segurou o placar até o intervalo. No segundo tempo, precisando de três gols, o Paulista se lançou ao ataque e acabou levando o segundo, marcado por Mineiro. Finalmente o Azulão deixou pra trás a estigma de vice e conquistou seu primeiro título paulista. Particularmente, penso que o Paulista que apareceu para o Brasil naquele campeonato, foi mais zebra que o São Caetano, mas para um campeonato onde Palmeiras, Santos e São Paulo eram favoritos disparados, uma final caipira foi uma zebra e tanto. E desde aquela época Murici já dizia: “cuidado, que a bola pune”.

Fotos: www.futebolnews.com
uol esportes

São Caetano 2 x 0 Paulista
São Caetano: Sílvio Luís, Ânderson Lima, Dininho, Serginho e Triguinho; Marcelo Mattos, Mineiro, Gilberto e Marcinho (Lúcio Flávio); Euller (Warley) e Fabrício Carvalho (Fábio Santos). Técnico: Murici Ramalho.
Paulista: Márcio, Lucas, Asprilla, Danilo e Galego; Umberto, Alemão, Canindé e Aílton (Fábio Melo); Izaías e João Paulo (Davi). Técnico: Zetti.
Gols: Marcinho, aos 20 do 1º; e Mineiro, aos 43 do 2º tempo
Cartões amarelos: Ânderson Lima e Serginho (São Caetano) e Alemão (Paulista)
Estádio: Pacaembu, em São Paulo(SP).
Data: 18/04/2004.
Árbitro: Sálvio Spínola Fagundes Filho (SP) Auxiliares: (SP) e (SP).
Público: 25.221 pagantes.