quinta-feira, 1 de outubro de 2009
Marselhesa africana
Sem dúvida essa foi uma das zebras mais satisfatórias que já assisti até hoje. É uma das poucas vezes que o futebol proporciona a sensação de ter sido feito a justiça no resultado.
Estou falando do jogo de abertura da Copa do Mundo de 2002 na Coréia do Sul e no Japão, realizado no dia 31 e maio daquele ano, em Seul. Só por ser um jogo de abertura, já deixa meio caminho andando para que algo de anormal aconteça. Quando se trata de um confronto entre africanos e europeus a chance aumenta muito. Naquele ano, os atuais campeões mundiais, os franceses, que vinham de quatro anos de domínio e arrogância, entrariam em campo para enfrentar o Senegal, seleção estreante em mundiais e completamente desconhecida até então.
Mais do que um confronto entre favoritos e estreantes era um confronto entre ex-metrópole e ex-colônia e, porque não, um confronto do mundo do futebol contra a arrogante seleção francesa. Como agravante, tinhamos o fato de a grande maioria dos atletas senegaleses atuavam no futebol francês e que o técnico Bruno Metsu, que treinava a seleção do Senegal, é francês e passava a maior parte do seu tempo no seu pais de origem.
Antes do mundial a população senegalesa já comemorava a participação no torneio, mesmo com a quase certeza de uma eliminação na primeira fase. Mas ninguém escondia que o maior objetivo era complicar a vida da França e surpreender o mundo. Entretanto a surpresa não era tão surpresa assim, pelo menos não no continente africano, pois o Senegal já vinha de uma boa campanha nas eliminatórias e de um vice campeonato africano, sendo que já e era respeitada por forças como Camarões e Nigéria. Aquele time foi montado quase que da noite para o dia, a partir do fim de 2000, por Metsu. Os jogadores não tinham a habilidade dos nigerianos, nem a força física de Camarões, mas alivam essas duas qualidades à velocidade e a uma disciplina tática que raramente aparece em seleções africanas.
E foi assim que o Senegal, um país de jogadores habilidosos, com uma estrutura quase amadora, péssimos gramados,clubes sem estrutura e sem divisões de base e onde o esporte depende de dinheiro do governo para se manter, chegou a sua estréia em mundiais.
Quando o jogo começou a história começou a ser escrita. O jogo foi bem movimentado, nem tanto por vontade dos fanceses, mas, sim, devido a velocidade que os senegaleses impuseram. A França, sem seu melhor jogador, Zidane, tentava tocar a bola e armas jogadas, mas sofria com a velocidade das investidas do time africano. Numa dessas investidas, Diouf arrancou pela ponta esquerda, foi a linha de fundo e cruzou para Bouba Dioup que dividiu com Petit e finalizou. Barthez defendeu na primeira, mas o rebote ficou com o próprio Bouba Dioup que, mesmo sentado, empurrou para o gol. A França, para evitar o vexame avançou, mesmo que desordenada, e conseguiu criar boas chances. Trezeguet mandou uma bola na trave ainda no primeiro tempo e Henry acertou o travessão no segundo tempo. Mesmo com boas chances a frança continuou jogando mal e mereceu mais levar o segundo gol do que empatar o jogo. O próprio Senegal acertou uma bola no trave de Barthez no segundo tempo, mas o placar não se alterou. O Senegal venceu por ter jogado com raça e vontade de quem estreava em uma Copa e queria mostrar a que veio.
Ao fim do jogo não eram apenas os atletas e comissão técnica do Senegal que comemorava. Boa parte do estádio e o restante do mundo futebolístico comemorava a queda dos atuais campeões frente a sua ex-colônia. A Copa do Mundo ganhava sua mais nova zebra. E uma zebra consistente. O time senegalês empataria suas duas partidas seguinte, contra a Dinamarca (1x1) e num jogaço contra o Uruguai(3x3). Dessa forma seguiu para a próxima fase surpreendendo a todos. Como se já não fosse suficiente, nas oitavas eliminou a forte seleção sueca (2x1), que havia derrubado Argentina e Nigéria na 1ª fase. Em sua estréia em Copas, o Senegal igualou a campanha de Camarões na Copa de 90 como as duas melhores campanhas de seleções africanas em mundiais. Pena que nas quartas de final foi derrotada por 1x0 pela seleção da Turquia, que terminaria em 3º lugar. Foi o auge de um time muito bom, que não teve o mesmo sucesso nos anos seguintes.
Já a França perdeu para a Dinamarca e empatou com o Uruguai, sendo vergonhosamente eliminada na primeira fase, sem ter marcado um gol sequer.
Nessa história, o único senegalês a sair triste foi o que se naturalizou francês, Patrick Vieira, um dos maiores volantes do futebol moderno, que trocou seu pais de origem pelo sucesso na seleção francesa. Quis o destino que a seleção de seu pais de origem impusesse uma das maiores decepções de sua carreira.
Fotos: languagecaster.com
bixentelizarazu.w.interia.pl
world-cup-info.com
FRANÇA 0 x 1 SENEGAL
França: Barthez; Tchuran, Le Boeuf, Desailly e Lizarazu; Vieira, Petit e Djorkaeff (Dugarry); Wiltord (Cisse), Trezeguet e Henry. Técnico: Roger Lemerre
Senegal: Sylva; Daf, Diatta, Cisse e Coly; Fadiga, Diao, , Bouba Dioup e N´Diaye; Papa Diouf e H. Diouf. Técnico: Bruno Metsu
Gol: Bouba Diop , aos 30 do 1º tempo.
Cartões amarelos: Petit e Cisse (França).
Estádio: Seoul World Cup Stadium, em Seul (COR).
Data: 31/05/2002.
Árbitro: Ali Bujsaim (EAU) Auxiliares: Ali Al Traifi (ARA) e Jorge Rattalino (ARG).
Público: 62.651 pagantes
Veja abaixo o vídeo da vitória senegalesa.
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A França perdendo é sempre um gostinho especial... Agora, para o Senegal, na abertura da copa seguinte ao fatídico 3x0 em Saint Denny, foi strogonoficamente delicioso!
ResponderExcluirJá na abertura, via-se que aquela copa seria diferente!