terça-feira, 21 de julho de 2009

O Independência e a primeira grande zebra das copas

Monte uma seleção de jogadores da sua rua, se possível que nunca tenham jogado juntos e derrote a Seleção Brasileira. Difícil? Coisa semelhante foi feita há alguns anos no bairro do Horto, em BH.
Essa é reconhecida mundialmente como a primeira grande zebra da história das Copas do Mundo. A cidade de Belo Horizonte, mais precisamente o estádio Independência, foi palco de um jogo que tinha tudo para ser apenas uma mera formalidade, mas ganhou status de partida épica¹.
A poderosa seleção britânica fazia sua estréia em Copas do Mundo e surgia como a franca favorita a desbancar os anfitriões brasileiros. Até então, competindo como Reino Unido, se mantinha imbatível. Mesclava atletas ingleses e escoceses, sendo que nunca tinha perdido em Wembley, Londres, e no Hampden Park, Glasgow, as duas casas dos British Lions (leões britânicos, como eram conhecidos). Porém, nunca haviam disputado uma competição oficial com os profissionais, sendo que sua fama foi construída à base de amistosos.
A Copa de 1950 foi sua estréia no cenário mundial. Curiosamente, Escócia e Inglaterra disputaram as eliminatórias separadas, com a Inglaterra terminando em primeiro. Como ficaram em segundo os escoceses desistiram de competir, por achar sem sentido jogarem, já que a Inglaterra já representaria o Reino Unido. Mesmo sem jogadores da escócia, a Inglaterra havia vencido, antes de embarcar para a copa, um combinado europeu por 6x1.
O favoritismo se confirmou ao vencer o Chile na estréia por 2x0, no Maracanã. O próximo adversário seria a seleção dos Estados Unidos. Tratava-se de uma equipe amadora onde o único profissional era Ed McIleny. O treinador Bill Jeffrey, para formar um time e trazer ao Brasil com o único intuito de fazer parte de uma competição que “parecia” ser importante (os americanos mal tinham conhecimento do que vinha a ser a Copa do Mundo), convocou um lavador de pratos, um professor, um motorista de carro fúnebre e outros trabalhadores. Nos amistosos antes da Copa, perderam de nove para a Itália, de cinco para a Irlanda do Norte e de quatro para a Escócia. Sem dúvida era uma barbada.
Os ingleses, concentrados em Nova Lima, chegaram até a se preparam fazendo amistosos com o Vila Nova, clube local, mas devido ao bom resultado na primeira rodada, desprezaram os Estados Unidos e abusaram da indolência. Pouparam titulares para a partida e comemoraram dias antes a vitória.

Entretanto, no dia 29 de junho de 1950, no estádio Independência, o inexpressível time dos Estados Unidos entrou para a história do futebol mundial vencendo a Inglaterra por 1x0. Para o jornalista Plínio Barreto, colunista do jornal Estado de Minas, aquele “foi um grande acontecimento, uma zebra universal”. Mesmo com a total pressão da Inglaterra, o estádio todo torceu pelo time mais fraco e foi ao delírio quando, aos 38 do 1º tempo, no primeiro ataque dos americanos, seu único atleta negro, Joe Gaetjens subiu de cabeça e fez o gol histórico. Haitiano de nascimento, era um estudante de 26 anos, que de uma hora para outro virou herói, tendo saído ao fim da partida carregado pela multidão que invadiu o campo.
O mundo não acreditava nas notícias que chegavam do Brasil. Os jornais ingleses estampavam a manchete “Inglaterra10x1EUA”, por acharam que o resultado de 1x0 para os EUA, que chegou pelo telex, estaria com algum erro.


Gaetjens mostrou que no futebol tudo poderia acontecer. Depois da Copa, ele foi jogar na França pelo Racing Clube de Paris e pelo Troyes, mas em 1954 voltou para o Haiti, onde morreu durante a ditadura. Infelizmente, a repercussão do seu feito foi quase nenhuma. O autor do gol mais importante da história do futebol dos Estados Unidos sequer conseguiu se tornar um cidadão americano e teve seu nome escrito como sendo Larry em alguns jornais e livros britânicos. A única homenagem a seu nome foi em 1976, quando seu nome foi inscrito no Hall da Fama do futebol dos Estados Unidos.
Os EUA foram eliminados na primeira fase, pois perderam suas duas outras partidas por 3x1 para Espanha e 5x2 para o Chile, mas saíram do Brasil como campeões. Já a Inglaterra, com a moral abalada, perdeu para a Espanha por 1x0 e foram desclassificados ainda na primeira fase. Ao contrário dos americanos, voltaram para casa humilhados e tendo que engolir a sua tradicional arrogância.

¹A título de curiosidade, a história desse jogo foi retratada no filme de 2005, The Game of Their Lives , dirigido por Davis Anspaugh.

Fotos: www1.folha.uol.com.br(foto de Gaetjens)
marcionlinehoje.blogspot.com (lance do gol)


EUA 1 x 0 INGLATERRA
Eua: Borghi, Pariani e Edward Souza; John Souza,Ed McIlvenny e Colombo; Joe Gaetjens, Keough, Wallace, Bahr e John Maca. Técnico: Bill Jeffrey .
Inglaterra: Burt Williams, Mannion e Finney; Billy Wright, Ramsey e Aston; Mortensen, Hughes, Dickinson, Bentley e Mullen. Técnico: Walter Winterbottom.
Gols: Gaetjens aos 38min do 1º Tempo.
Estádio: Independência, em Belo Horizonte (MG) Data: 29/06/1950.
Árbitro: Generoso Dattilo (ITA). Auxiliares: Charles De La Salle (FRA) e Giovanni Galeatti (ITA).
Público: 10.000 pagantes

Veja abaixo, o trailler do filme de 2005, que conta a história dessa partida:

2 comentários:

  1. Pô, se esqueceu da zebra de 2009. a do Cruzeiro comtra o Estudiantes... essa foi a maior decepção do ano... (lamentos de um cruzeirence)

    ResponderExcluir